domingo, 10 de janeiro de 2010

"Passou um filme na cabeça!"


Ontem a noite saimos para uma sangria e a comemoraçao de um aniversário, eu, duas colombianas e dois venezuelanos.
Começamos a noite no El Naranja (bar dos italianos, do qual já falei aqui alguma vez) e depois fomos para um lugar Cubano dançar salsa.
Chegando lá minha cabeça nao parou nem por um minuto, ao contrário dos pés, que nao estavam sentindo o poder da salsa no sangue circulante, como os demais latino americanos que estavam lá.
E a cabeça rodopiava e tinha momentos de grandes revelaçoes. Na hora eu só pensava era que tinha que vir aqui escrever tudinho...mas agora algumas coisas já entraram no limbo dos pensamentos regados â vinho e herdeiros de uma noite mal dormida.
Tudo ali era tao familiar, acho que nao havia um espanhol sequer naquele espaço. Era um nao-lugar (como gostam de falar os pseudos...), era uma casa de dança que poderia estar em qq lugar do planeta: aqui, em Tóquio ou em Oslo, nao importava, era realmetne um espaço reservado e preservado para um cultura quente latinoamericana.
Os venezuelanos e as colombianas sabiam cantar cada uma das músicas que tocavam e eu só observava, como tenho aprendido muito a fazer aqui. Eles se sentiram em casa. Eu menos.
Foi aí que cheguei a conclusao que as identidades, as identificaçoes e as proximidades entre as pessoas, os povos e os costumes sao apenas uma qustao de ponto de vista, do quao perto ou longe vc está olhando.
Me explico.
Uma pessoa da Zona lesta de SP se sente absolutamente diferente de uma pessoa do Morumbi - acha que tem outra cultura, que ouve outras músicas, frequenta outros lugares, come outro tipo de comida...nao encontra pontos de intersecçao entre as vidas. Qdo essas mesmas duas pessoas saem de Sp e vao para o Ceará, por exemplo, elas se juntam em uma só voz dizendo que sao Paulistanas, frente aos diferentissimos cearences, e agora sim percebem que tem algo em comum, que compartilham muito mais do que imaginam e que o Ceará é um outro mundo.
De repente em Havana, o cearense e o pauslitanos serao Brasileiros, completamente distinguidos dos cubanos. Na Espanha, o cearensa, o paulistano e o cubano serao latinoamericanos, completamente irmanados em contraposiçao ao espanhol. Um dia todos esses se encontram em Toquio e se sentirao todos farinha do mesmo saco, pois complartilham do mesmo alfabeto, de idiomas que têm a mesma raiz...
Percebe que é tudo uma questao de zoom?
Percebe que o que é aqui, ali já é outra coisa?
Percebe que os preconceitos têm um fim segundo esse olhar?
Se todos nós, pretos, brancos, judeus, cachorros e bananas nos encontrassemos em Marte seríamos todos iguais, pq nascemos no mesmo planeta.
Faz sentido rpa vc?
Pra mim fez muito. Na verdade, tudo isso fez "passar um filme na minha cabeça", como diz nosso filófoso dominical, pq eu fui rever a minha história de vida, tudo que eu tinha deixado pra trás para chegar até aqui e conseguir ter essa mirada de cima, como se eu estivesse em um aviao, cada vez subindo mais e no qual eu pudesse ver as cosias bem pequenininhas lá em baixo, se misturando, se embaralhando e perdendo o contorno.
Acho que eu me vi de cima, me lembrei de onde vim, de tudo que eu passei, das escolas em que estudei, das pessoas que conheci, dos professores que tive, das barreiras que derrubei, dos mortos que vi no meio da rua indo para a escola, das carteiras quebradas em que deitei meu caderno numa aula de qualquer coisa, dos piolhos que peguei, das crianças de chinelo havaiana que sentavam ao meu lado na segunda série, do pao com massa de tomate que levei na lancheira, das 2h30 de ônibus cheio rpa chegar na faculdade, dos professores que me olhavam com desconfiança, admiraçao e certo preconceito na USP, dos meus pais que nao estudaram e sabem tao bem o valor que tudo isso teve pra mim.
Me vi de cima e me vi cada vez maior.
É que percebi que eu já passei por muito mais coisas do que 90% das pessoas que conheço aqui e as vezes eu penso que nao sou tao boa quanto elas.
Mentira.
Nao sou pior, pelo contrário, hoje olho pra minha origem com um orgulho que nao sei nem descrever.
Nós, brasileiros, colombianos, venezuelanos, peruanos, chilenos, todos os africanos, nós sabemso viver, nós sabemos enganar o tempo, enganar o espaço e viver, e ser felliz e ter sorriso na cara.
Passou um filme na cabeça.
E eu fiz o post mais piegas que consegui.

PS: a Imagem é do Edward Hooper, pq esses dias fui ao Museu Thyssen e me lembrei que gosto muito desse pintor, e me perguntei de onde eu tirei a ideia de gostar de arte? E tb pq essa imagem me representa um pouco aqui...menos melancólica, claro! hehe

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